A época das festividades é vivida geralmente com grande antecipação. É globalmente associada a felicidade, harmonia, celebração e partilha. Apesar de ser uma altura geralmente vivida com grande intensidade e euforia, existe o outro lado da moeda: a pressão na preparação dos eventos; o reboliço das compras; o desejo de corresponder a expectativas; o desejo de ter tudo perfeito. Para além destas pressões colaterais, existe ainda casos em que a reunião familiar é sentida com algum receio ou até luto, quando a mesma é dolorosa ou até inexistente. Para além disto, esta é também uma altura do ano muitas vezes utilizada para reflexão, pausa e reconstrução, sendo que, ocasionalmente, os resultados do ano que passou ficaram aquém das resoluções tão fortemente desejadas.
As festividades, nem em tudo, nem para todos são um mar de rosas, apesar de haver uma sensação em cada um de nós que assim deveria ser.
Vivemos tempos desafiantes. As consequências sentidas a nível pessoal, interpessoal e até económico e geopolítico após o período pandémico, podem servir como uma motivação para aproveitar estes momentos, mas pode também deixar um paladar amargo de que o mundo não é, ou nós não estamos onde deveríamos estar. Para muitas pessoas, este período é visto como um fechar de ciclo e o iniciar de um novo, mas por vezes há ciclos que teimam em não fechar, apesar da expectativa de mudança que o “Ano Novo, Vida Nova” carrega (e já sabemos que a expectativa é, por vezes, a prima próxima da desilusão).
Podemos pegar no exemplo do chamado Christmas Blues (ou tristeza natalícia), geralmente relacionada a uma tristeza que já lá estava mas fica mais exacerbada nesta época fruto de eventos negativos de vida (perda de familiares, por exemplo) que são vividos mais intensamente nesta altura e fruto da pressão social para a felicidade e socialização, característicos desta época.
Sentir alguma apatia e frustração nestas épocas é natural e não deve ser encarado com julgamento. Já dizia Fernando Pessoa que “há beleza o suficiente em se estar aqui e não noutro lado qualquer” — viver as festividades da nossa forma, mesmo que isso não seja congruente com outras casas ou pessoas à nossa volta, também é viver as festividades. Criar as próprias tradições é também festejar. Desconstruir ainda as expectativas do Natal ou Ano Novo “perfeito” é importante para que não exerça demasiada pressão sobre si mesmo. Não tem que ser perfeito, desde que seja seu!
Este período pode ainda ser aproveitado para refletirmos sobre o que fizemos e o que ficou por fazer; o que queremos manter ou alterar na nossa vida. No entanto, ter resoluções realistas é o primeiro passo para que as mesmas sejam cumpridas. Querermos mudar tudo e radicalmente, causa uma frustração quando as coisas não correm na perfeição (e já sabemos que geralmente não correm!), levando a que desistamos de hábitos que estávamos realmente motivados em manter.
Fazer listas de resolução realistas, assim como incluir nestas reflexões todas as vitórias e ganhos do ano, ajuda-nos a desviar o nosso filtro (usualmente mais crítico para connosco) por um filtro mais ajustado — em vez de Ano Novo, Vida Nova, que tal Ano Novo, Vida diferente? Não ficamos sempre no mesmo sítio, e certamente haverá pequenas ou grandes vitórias a celebrar (um dia bem passado; uma nova conexão; uma evolução profissional; um feedback positivo; aquela refeição maravilhosa que fizemos; aquele abraço bem dado). Relembrar estes pequenos momentos é festejar.
Aproveitarmos também para refletir sobre aspetos da nossa vida pelos quais estamos gratos, é também festejar. Ser gentil com as nossas emoções, sem comparações e julgamento, é também festejar. Incluir uma atividade de autocuidado nestes dias mais turbulentos, é festejar mesmo quando não nos sentimos com o humor para tal. Nem temos que estar.
Ser, estar, sentir e tentar apreciar pequenas coisas das festividades, é mais do que suficiente.
Desejos de uma época festiva serena (à vossa medida, ritmo e disposição!).