A empresa e o colaborador funcionam de forma quase simbiótica. Ou seja, a empresa, as suas políticas, iniciativas e ambiente têm impacto no bem-estar do colaborador e este, por sua vez, tem impacto no funcionamento da empresa.
Ao longo dos últimos anos, tem surgido uma nova sensibilidade para o bem-estar dos colaboradores e com ela a necessidade de implementação de novas medidas, da disponibilização de novos recursos e do desenvolvimento de políticas empresariais que permitam a continuidade destas novas iniciativas. Esta consciencialização traz muitos benefícios para o trabalhador e traz também muitos benefícios à empresa.
Num mundo marcado por mudanças rápidas, crises globais, desastres naturais e por acontecimentos de vida individuais, o impacto destes eventos e da sintomatologia traumática que deles pode originar tem impacto no bom funcionamento da empresa, por exemplo ao nível da queda de produtividade e do aumento do absenteísmo. A investigação mostra-nos também que 70.4% da população geral já experienciou pelo menos um evento traumático ao longo da vida. Isto sublinha a importância de encontrarmos formas de providenciar o melhor ambiente de trabalho possível aos colaboradores e de formar todos os quadros da empresa, de forma a prevenir os efeitos nefastos do trauma para ambas as partes.
É, por isso, crucial explorar o conceito de um contexto sensível ao trauma, a sua relevância no âmbito empresarial e as estratégias para implementá-lo nas organizações.
O que são contextos sensíveis ao trauma?
Contextos sensíveis ao trauma são ambientes que reconhecem, compreendem e respondem à presença de trauma em indivíduos ou grupos. Num ambiente empresarial, isso implica criar espaços que promovam segurança emocional, empatia e suporte, garantindo que as práticas e políticas corporativas não desencadeiem ou agravem experiências traumáticas.
Os princípios básicos de um contexto sensível ao trauma incluem:
· Segurança psicológica: Os colaboradores devem sentir-se seguros para expressar preocupações, pedir ajuda e realizar as suas tarefas sem medo de represálias ou julgamento.
· Reconhecimento do impacto do trauma: Compreensão de que experiências traumáticas afetam o comportamento, a produtividade e as relações interpessoais.
· Evitar danos adicionais: Garantir que as práticas empresariais não intensificam o sofrimento emocional ou retraumatizam o trabalhador.
· Promover a resiliência: Desenvolver recursos e redes de suporte que ajudem os colaboradores a superar desafios e prosperar.
Por que é relevante para as empresas?
O trauma pode surgir de diversas fontes — experiências pessoais, sociais ou profissionais. Estudos mostram que altos níveis de stress traumático podem impactar negativamente a produtividade, a satisfação no trabalho e a retenção de talentos. Assim, reconhecer e mitigar esses efeitos traz benefícios não apenas para os indivíduos, mas também para os resultados da organização.
Entre os principais benefícios de adotar medidas que fomentam contextos sensíveis ao trauma, destacam-se:
· Melhoria no bem-estar dos colaboradores: Espaços seguros promovem saúde mental e emocional.
· Aumento da produtividade: Quando os trabalhadores se sentem apoiados e valorizados pela empresa, a produtividade e o empenho aumentam.
· Redução do turnover: Práticas de apoio podem melhorar a retenção de talentos.
· Construção de uma cultura organizacional positiva: Empresas que cuidam dos seus trabalhadores e promovem o bem-estar atraem e retêm profissionais qualificados.
Como implementar contextos sensíveis ao trauma?
A implementação destes contextos requer tomada de ação, principalmente nas seguintes áreas:
- Capacitação e consciencialização:
- Treinar lideranças e equipas para reconhecer sinais de trauma e responder de maneira empática.
- Promover workshops e formações sobre saúde mental, resiliência e comunicação não violenta.
2. Revisão de políticas internas:
- Garantir que as políticas de recursos humanos sejam inclusivas e considerem o impacto do trauma.
- Introduzir flexibilidades, como licenças de saúde mental ou ajustamentos razoáveis para situações específicas.
3. Criar espaços seguros:
- Disponibilizar canais de comunicação confidenciais para que os colaboradores relatem preocupações.
- Estabelecer espaços físicos ou virtuais que ofereçam suporte emocional e psicológico.
4. Promover suporte profissional:
- Parcerias com profissionais de saúde mental para oferecer suporte direto.
- Implementar programas de assistência ao colaborador que incluam serviços relacionados ao trauma.
5. Monitorizar e avaliar:
- Recolher feedback regularmente para medir a eficiência das iniciativas.
- Ajustar estratégias conforme necessário, garantindo que continuem alinhadas com as necessidades da equipa.
Desafios e como superá-los
Criar contextos sensíveis ao trauma traz muitos benefícios, no entanto, também pode apresentar desafios, como por exemplo:
· Resistência cultural: Algumas organizações podem inicialmente considerar estas práticas como um custo desnecessário. Superar isso exige evidências claras dos benefícios, como redução de absenteísmo e aumento de produtividade.
· Estigmas relacionados ao trauma e à saúde mental: Infelizmente os estigmas relacionados com a saúde mental ainda são comuns, pelo que promover campanhas de consciencialização e formações pode ajudar a normalizar o tema.
· Recursos limitados: Nem todas as organizações têm os meios para implementar soluções completas. Contudo, pequenas mudanças, como capacitação básica e revisão de políticas, podem fazer a diferença.
Conclusão
Investir em contextos sensíveis ao trauma não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas também uma estratégia inteligente para empresas que desejam prosperar num ambiente competitivo. Organizações que cuidam do bem-estar emocional das suas equipas criam bases sólidas para inovação, produtividade e crescimento sustentável. Ao adotar práticas que promovem segurança e empatia, as empresas demonstram que, mais do que resultados financeiros, valorizam as pessoas que fazem parte da sua história.