Dias tristes de Verão
Calor, piscina, praia, churrascos com os amigos, cocktails, roupa leve. As férias são vistas como momentos-chave para descansar, usufruir de momentos com a família e amigos, com uma leveza característica desta fase do ano.
Joana é advogada, casada, mãe de dois filhos. Planeou, durante meses, as férias de Verão com a sua família, em Cuba. No início do Verão começou a sentir-se deprimida, desmotivada, ansiosa. Ao remontar à sua adolescência, esta consegue identificar este padrão de “tristeza no verão” desde os seus 12 ou 13 anos.
Joana, aparentemente, poderá sofrer de Perturbação Afetiva Sazonal (PAS). A Perturbação Afetiva Sazonal é um tipo de depressão que se associa à mudança das estações e se carateriza por sintomas psicológicos como tristeza, alterações nos padrões de sono ou baixa motivação. A PAS caraterística do Inverno, conhecida como Winter Blues, tem vindo a ser cada vez mais falada nos últimos anos. Usualmente, na transição do outono para o inverno, algumas pessoas podem ter mais sono, mais sentimentos depressivos, maior desmotivação, aumento da irritabilidade, hipersensibilidade à rejeição, alterações no apetite muitas vezes associadas a “fome emocional”.
No entanto, a Perturbação Afetiva Sazonal do Verão, a Summertime blues, é desconhecida da maioria das pessoas. E quem preenche critérios para esta perturbação, parcial ou totalmente, sentirá um peso acrescido por não se sentir relaxada, descontraída e feliz como as restantes pessoas aparentam sentir-se. As manifestações da PAS caraterística do Verão são ligeiramente diferentes da PAS do Inverno: a agitação, insónia, falta de apetite e ansiedade são mais comuns nesta fase do ano.
As causas para a PAS de verão vão desde a predisposição genética, à adaptação às temperaturas elevadas e humidade. E outros fatores podem acoplar-se e justificar a tristeza/ansiedade que por vezes surgem nesta fase:
Pressão social para a diversão.
Para muitas pessoas Verão é sinónimo de festas,concertos, reuniões com amigos, viagens. As nossas redes sociais são inundadas com fotografias de lugares paradisíacos, com gastronomia das várias regiões do globo, com peles morenas, sorrisos rasgados e vidas perfeitas. E quando não nos sentimos assim, o sentimento de inadequação e frustração toma ainda mais conta de nós.
A minha expectativa não era esta.
A esperança baseada em pressupostos errados/exagerados pode ter um impacto devastador na nossa autoestima, relações interpessoais e bem-estar. Não é incomum passarmos meses a sonhar e a delinear as férias. E no nosso pensamento estas serão perfeitas, com as pessoas perfeitas, no local perfeito. Quando nos aproximamos da realidade, podemos deparar-nos com a imperfeição das coisas, das pessoas e dos locais; podemos deparar-nos com constrangimentos económicos que não nos permitem realizar os nossos sonhos; podemos deparar-nos com uma semana inteira de chuva que não nos permite ir para a praia que tanto queríamos.
Da exaustão às férias.
Ir de férias, para a maioria das pessoas, não significa fechar o computador no último dia de trabalho como fariam em qualquer outro dia da semana. Ir de férias significa, a maioria das vezes, uma corrida atrás do tempo num corrupio para deixar os emails tratados, os telefonemas feitos, as reuniões agendadas.
Culpa.
Muitas vezes, as férias são preenchidas por sentimentos de culpa pelo trabalho que ficou por fazer, por não se estar a ser produtivo, por se estar, “apenas”, a descansar. Como se o descanso fosse sinónimo de ócio. E ainda a culpa que sentimos por não estarmos a conseguir descansar, dizendo a nós próprios que depois de tanto trabalho e de tanta espera pelas férias devíamos conseguir descansar e não devíamos continuar a pensar no trabalho.
Sou o meu trabalho.
Há pessoas que têm dificuldade em saber quem são para além das atividades profissionais que desenvolvem, nas quais se sentem competentes e completas. Quando têm de assumir diferentes papéis, em diferentes cenários que não o laboral, sentem-se perdidos, pouco confiantes e ansiosos.
Menos roupa, menos autoestima.
A autoestima e perceção que temos de nós próprios pode sofrer alterações quando a exposição corporal aumenta. É possível que em algumas pessoas o Verão venha a exacerbar as inseguranças com a imagem corporal.
O que fazer com este tempo todo livre.
Às vezes somos atropelados pela rotina cujo tempo de lazer é reduzido e acabamos por viver meses a fio sem desenvolver atividades de lazer ou culturais. E desaprendemos formas de viver o tempo livre com tarefas reconfortantes, prazerosas e úteis. Na verdade, o desejo de ser produtivo não está relacionado apenas com o trabalho, mas também com a nossa vida privada. Como se cada segundo do nosso dia tivesse de ter um propósito.
Como lidar?
Embora por vezes sejam manifestações transitórias, outras vezes estes sintomas perduram durante várias semanas ou meses. Eis algumas sugestões para lhes fazer face:
- Identifique o que desencadeia a forma como se sente;
- Mantenha-se ativo;
- Faça meditação;
- Faça do sono uma prioridade;
- Estabeleça uma rotina;
- Mantenha-se hidratado;
- Desligue as notificações, os emails ou as plataformas associadas ao trabalho;
- Faça uma pausa das redes sociais;
- Aprenda ou reaprenda um hobby;
- Passe tempo com familiares e amigos;
- Se necessário, procure ajuda profissional.
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