“I can't get no satisfaction
I can't get no satisfaction
'Cause I try and I try and I try and I try
I can't get no, I can't get no”
Conhecem esta música dos Rolling Stones? Uma música que encaixa muito bem no tema que vos trago hoje: a luta pela satisfação.
Primeiro de tudo: Porque vamos falar sobre “satisfação” e não falamos sobre “felicidade”?
É verdade que, no nosso dia a dia, falamos várias vezes sobre felicidade. Dizemos que estamos felizes, o que nos deixou felizes ou o que nos falta para sermos felizes. Nunca, ou raramente, utilizamos a expressão “satisfação com a vida”.
Apesar de tentarmos simplificar, a verdade é que satisfação e felicidade não são a mesma coisa, e as suas diferenças não são assim tão simples de explicar. Tentando descomplicar: podemos pensar na felicidade como algo que acontece em tempo real, é um momento; a satisfação dura mais, pode ser construída ao longo do tempo pode prolongar-se. Remete para uma avaliação, subjetiva, acerca do contentamento (entusiamo/prazer ou descontentamento/sofrimento) que é percebido por nós quando pensamos sobre vários segmentos da nossa vida (e.g., nível familiar, profissional, académico, social).
E agora? O que vos falta para atingir a plenitude da satisfação? Se eu vos perguntasse, de 0 a 10, o quão satisfeitos estão com a vossa vida o que diriam?
Se pudesse apostar, diria que uma pequena percentagem (quando falo em pequena, é mesmo muito pequena, quase invisível aos nossos olhos) atribuiu uma pontuação igual ou superior a 9.
“Porque dizes isso?” perguntam vocês.
Custa-me dizer isto, mas a verdade é que, nos dias de hoje, parece que a nossa satisfação, ou a nossa perceção de satisfação, parece alterada. Existem vários fatores que podem contribuir para esta alteração. A qualidades das nossas relações, a saúde física e mental e/ou o sucesso profissional são alguns aspetos desta equação. Ademais importa referir que cada pessoa é única, portanto o que traz satisfação para uns, pode não ter o mesmo efeito nos outros.
Um outro elemento que parece pesar muito para o resultado da equação da satisfação com a vida parece ser a perceção de que estamos satisfeitos com a nossa vida apenas quando atingimos os nossos objetivos, isto é, muitas vezes assumimos que estaremos mais satisfeitos quando atingimos um determinado objetivo, como entrar para a universidade, terminar o tão desejado curso, comprar uma casa, construir família, entre outros. Mas então quer dizer que até lá, até conseguirmos atingir esses objetivos, não estamos satisfeitos com a nossa vida? A verdade é que não, mas provavelmente dependemos disso para nos sentirmos melhor.
Vamos utilizar o exemplo de concluir a universidade. No dia em que recebemos o diploma, sentimo-nos orgulhosos e felizes pela nossa conquista. É algo imediato, sentimos uma felicidade instantânea.
Mas e o processo até lá? Como foi? Foi satisfatório ou existiram custos/perdas?
A verdade é que o processo até atingirmos algo importante para nós também pode ser satisfatório, mas o foco é sempre maior no grande objetivo que até parece que perdemos a consciência do que foi necessário para o atingir e se o que foi feito foi congruente com aquilo que nós acreditamos e defendemos.
Por vezes, a maratona dos objetivos faz-nos esquecer a que custo os alcançamos. Voltando ao exemplo de concluir o curso: sentimo-nos felizes porque terminamos o curso. Mas como foi o processo? Talvez me tenha privado de fazer coisas que gosto para o conseguir atingir, posso ter passado menos tempo com a minha família ou com os meus amigos, sofri com a ansiedade dos timings, dos testes e dos projetos, descurei a minha saúde física e mental, desleixei-me na alimentação, deixei de fazer exercício físico, ... Então, apesar de eu sentir felicidade momentânea aquando do término, talvez não me tenha sentido tão satisfeito com a minha vida no processo para o atingir.
Então como posso atingir o auge da felicidade e satisfação com a minha vida?
Não há uma receita mágica para tal, mas acredito que os nossos objetivos e os nossos valores façam parte da lista de ingredientes.
Os objetivos definem-se como um projeto, um comportamento, algo que idealizamos alcançar e realizar. Os valores não podem ser realizados, mas podem ser respeitados, e são vistos como algo que nós defendemos, que nos orienta.
O propósito é que os nossos objetivos sejam alcançados de acordo com os nossos valores. Desta forma, se eu for “fiel” aos meus valores, provavelmente o meu processo para atingir o grande objetivo será mais satisfatório e, quando alcançar a grande meta, sentirei a conhecida felicidade.
Assim, termino este artigo, questionando-vos:
Será que temos sobrevalorizado a importância de atingir os nossos objetivos, descurando os nossos valores, a nossa saúde, e/ou as nossas relações? Será que desvalorizamos a satisfação com a nossa própria vida?