Quantas vezes dás por ti a dizer ou pensar “oh, esta tarefa fica para amanhã!”? Logo depois chega o amanhã e tens exatamente o mesmo discurso e continuas nesse registo por vários dias. Quando te apercebes já passou uma ou duas semanas desde o primeiro dia em que decidiste adiar a tarefa ou te comprometeste a fazê-la! De certeza que houve dias em que acordaste e disseste “É hoje! Não passa de hoje!” e pelo meio parece que o teu dia foi sendo ocupado por outras tarefas deixando, mais uma vez, essa assombrosa tarefa de lado. Pois é, parece que a Britney não é a única que pode fazer uso da expressão “Oops, I did it again!”. E quem diz tarefa, diz aquela tomada de decisão complexa ou aquela conversa difícil que tens de ter com um amigo e já sabes que poderá gerar conflito. Na verdade, podemos procrastinar em relação a várias coisas!
“Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje!”.
Mas será assim tão simples? Quanta pressão nos traz esta expressão para o nosso dia-a-dia? Quando o hoje está cheio de tarefas que atravessam a esfera profissional e pessoal, realmente poderá ser difícil não deixar algumas coisas para o dia seguinte. Numa agenda super preenchida é natural que se criem as condições para o surgimento de alguma ansiedade, frustração e até sentimentos de culpa por não conseguirmos realizar tudo aquilo a que nos propomos ou precisamos de fazer. Importa, por isso, fazer uma boa gestão do nosso tempo e estabelecer prioridades de forma a reconhecermos e aceitarmos aquilo que realmente temos disponibilidade para fazer, diminuindo assim sentimentos de culpa e de incapacidade.
E quando deixo para amanhã o que posso fazer hoje?
Muitas vezes, mesmo que o hoje não esteja assoberbado de tarefas prioritárias, muitos de nós arranjam maneira de lhes atribuir esse valor, essa importância, com o objetivo deliberado de adiar a realização das tarefas que tanto nos incomodam. Ao vermos as coisas desta perspetiva podemos estar a colocar-nos na mente de um procrastinador.
Procrastinar, a arte de adiar
A procrastinação é percebida como o atraso voluntário de tarefas e/ou decisões que pretendem ser realizadas e são necessárias e/ou pessoalmente importantes, apesar de se reconhecerem as consequências negativas deste evitamento que ultrapassam as consequências positivas. É considerado um comportamento complexo por envolver componentes cognitivas, emocionais e comportamentais que promovem um conforto temporário quando a tarefa aversiva é evitada. Por isso é normal que quando procrastinamos nos sintamos aliviados a curto prazo. Contudo, são vários os estudos que nos dizem que a procrastinação prejudica o nosso bem-estar.
Procrastinar, quanto estou disposto a pagar?
As raízes emocionais da procrastinação incluem medos, dúvidas, pressões, memórias, etc. Contudo, a maioria das pessoas que procrastina não identifica estes aspetos uma vez que evita as tarefas que provocam algum tipo de desconforto. Apesar de ser difícil lidar com as consequências negativas da procrastinação, é sempre mais fácil lidar com o autocriticismo em vez de aceitar e enfrentar a nossa vulnerabilidade. Assim sendo, muitos investigadores veem a procrastinação como uma estratégia de autorregulação falhada. Podemos ainda pensar na procrastinação como um continuum. Num polo temos aqueles que procrastinam e lidam bem com isso, não se encontrando em sofrimento e noutro polo encontramos aqueles cuja procrastinação lhes traz sérios problemas. As consequências podem ser internas, manifestando-se por irritação, frustração, autocriticismo, desespero, arrependimento e externas, como penalização no trabalho, conflitos nas relações interpessoais, etc.
Se te encontras no polo cujas consequências negativas são difíceis de gerir é importante refletires sobre as possíveis causas da tua procrastinação e, se achares esse caminho difícil de realizar sozinho, procura ajuda!
Por isso, deixo-te com esta questão novamente mas agora dirigida a ti: quanto estás disposto a pagar por continuares a procrastinar?