Vivemos uma grande parte do tempo e dos nossos dias no chamado “Piloto Automático”, uma forma de estar e viver no qual agimos de forma automática e sem intenção consciente nas nossas ações. Apesar de, muitas vezes, ser este o modo que não nos permite viver uma vida mais mindful ele existe por um motivo! Para nos permitir sermos rápidos, eficientes e pouparmos energia e outros recursos para realizar tarefas do nosso quotidiano, por exemplo tarefas habituais no trabalho ou até conduzir. E isto acontece graças ao nosso cérebro e à sua plasticidade cerebral, que permite que rotinas e comportamentos repetitivos se tornem automáticos. Ou seja, a partir do momento em que aprendemos algo e repetimos essa ação o nosso cérebro (para poupar energia) automatiza esse comportamento – formando um hábito!
No entanto, estes comportamentos repetitivos, rotinas e hábitos não têm de nos controlar! Apesar de ser algo desafiante, visto que um hábito está firmemente enraizado nas nossas vidas (por ser, lá está, inconsciente e automático), é possível mudarmos, criarmos novos hábitos e dominarmos hábitos antigos através de um processo consciente de mudança de comportamento. Escolhermos fazer aquilo que queremos, que está alinhado com os nossos valores e com quem queremos ser.
Já dizia Carl Jung:
“Until you make the unconscious conscious, it will direct your life and you will call it fate. I am not what happened to me, I am what I choose to become. You are what you do, not what you say you'll do".
Mas, então, o que é na prática um hábito?
Conseguem pensar nos hábitos que fazem parte do vosso dia-a-dia? Talvez...fazer scroll durante algum tempo no Instagram ou outra rede social, ver um episódio de uma série antes de ir dormir, fazer a cama todos os dias, ir à mercearia todas as quartas-feiras, procrastinar...
Todos estes são exemplos daquilo que são considerados hábitos (bons ou maus), e todos eles definem quem somos, o que fazemos e o que podemos alcançar na nossa vida.
E como é que se cria então um hábito?
Segundo alguns autores este processo pode dividir-se em 4 passos:
- Pista: Situação, pessoa ou ambiente que desencadeia no nosso cérebro o processo de iniciar um comportamento. Sinaliza que pode entrar no modo automático!
- Desejo (Craving): Antecipação da recompensa que incentiva a tomada de ação do hábito. Motivação por trás da ação.
- Resposta: Ação/execução do hábito
- Recompensa: Satisfaz o nosso desejo, alivia algo. Essa recompensa estará associada à libertação de dopamina no cérebro.
Por exemplo, vamos pensar novamente no exemplo anterior de fazer scroll no Instagram. Segundo este ciclo poderíamos explicar a criação deste hábito da seguinte forma – pista: chegar a casa e sentar-se logo no sofá com o telemóvel na mão; desejo: pausa do aborrecimento e do cansaço mental depois do dia de trabalho; resposta – o scroll; recompensa – distração, alívio.
Mas a boa notícia é…se o nosso cérebro se “altera” para se adaptar a comportamentos também se pode voltar a modificar através daquilo que fazemos para mudar, para que possamos estar conscientemente comprometidos e envolvidos nas nossas tarefas e atividades.
Como é que o podemos fazer?
Seguindo o raciocínio deste mesmo modelo, se quisermos quebrar um hábito (porque nos prejudica, porque não é congruente com os nossos valores) então temos que torná-lo:
- Invisível (reduzir a exposição às tais pistas, por exemplo no caso anterior não se sentar logo no sofá ao chegar a casa, ou pousar o telemóvel logo que chegamos a casa).
- Pouco atrativo (por exemplo, pensando e registando as consequências negativas desse mesmo hábito)
- Difícil (aumentar a resistência a esses mesmos comportamentos, por exemplo desinstalando algumas aplicações do telemóvel).
- Insatisfatório (fazer com que se torne não gratificante, colocando o telemóvel a preto e branco, pedindo a alguém para “nos policiar”)
E se quisermos criar um hábito saudável? Teríamos então que o tornar óbvio, atrativo, simples e satisfatório!
Mas, antes de tudo, é importante conseguirmos ganhar consciência sobre o que é um bom e um mau hábito. Para isso devemos colocar-nos algumas questões, nomeadamente devemos questionar-nos se dada ação contribui ou não para a nossa saúde mental e física a longo-prazo e se nos aproxima ou nos afasta da pessoa que queremos ser (em casa, no trabalho, na nossa relação, com os nossos amigos...) e dos objetivos que estabelecemos. Ou seja, é essencial que, neste processo de mudança, não nos esqueçamos daquilo que é verdadeiramente importante para nós, porque na prática “nós somos aquilo que repetidamente fazemos...”.